Um pouco de história

Antes da chegada dos primeiros portugueses à região de Magé, no século XVI, a mesma era habitada por índios TimbiraTamoio e Temiminó, da tribo de Arariboia, chamados pejorativamente por seus inimigos de “maracajás“.

 Na parte alta, que hoje corresponde à Serra dos Órgãos e consequentemente à Teresópolis, era registrado povoamento dos Guaranis, além do Quilombo da Serra, que abrigava escravos fugitivos das fazendas de cana-de-açúcar da baixada mageense.

No século XVIII, várias trilhas surgiram na subida da Serra a partir de Guapimirim que tinham como destino onde hoje está localizado o bairro de Três Córregos, no Segundo Destrito. O primeiro caminho passava pela Garganta Maria da Prata (hoje na área do Parque Estadual dos Três Picos) e chegava a Canoas. O segundo caminho passava pelo Soberbo e Garrafão (em trajeto próximo ao da BR-116, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos) e chegava a Boa Vista e Paquequer, onde atualmente está o bairro do Alto.

A primeira descrição oficial da região onde hoje situa-se Teresópolis foi feita em 1788 por Baltazar Lisboa,  juiz de fora do Rio de Janeiro, ordenada pelo Ministro e Secretário dos Negócios Ultramarinos.

Em sua descrição, Baltazar relata as características da serra e um suposto “sertão” onde hoje situa-se a Cascata do Imbuí. Além disso, finalizou relatando que “nada de notável havia, além da estrada de penetração partindo de Piedade (litoral), galgando a serra e seguindo para o verdadeiro sertão”

Baltazar Lisboa

George March e sua fazenda

Desde o início do século XIX, após a colonização, os ingleses foram os primeiros estrangeiros a chegar ao Brasil, com o objetivo de se beneficiarem das favoráveis condições de negócio e comércio oferecidas pelos portugueses, algo que se acentuou em 1808 com a abertura dos portos. Nessa época, 90% de todo o comércio português era realizado com a Inglaterra. Isso fez com que os comerciantes ingleses conquistassem grande lucratividade em suas atividades de comércio e indústria, ora fazendo consórcios com empresários brasileiros, ora por meio da construção de laços familiares.

George March, nascido em 1788, foi um dos ingleses que imigraram para Brasil, estabelecendo-se primeiramente na atual Rua Visconde Inhaúma, nº32, Praça MauáCentro do Rio de Janeiro, em 1813, com a Barker & March, firma especializada em importação de máquinas, aço, tecido e demais mercadorias inglesas, fixando residência em uma chácara localizada em Botafogo.

Mais tarde, por volta de 1818, arrendou uma extensa área de terras situadas na Serra dos Órgãos, a fazenda de Sant’Anna do Paquequer, propriedade de D. Luiza Clemente da Silva, na época pertencente à Magé, onde hoje localiza-se a região do bairro do Alto. A fazenda tinha quatro sesmarias de uma légua quadrada cada, que foram posteriormente adquiridas por compra. March construiu um prédio de dois andares onde era a sede da fazenda, inspirando-se em desenhos do secretário da embaixada inglesa, William Ouseley, bem como uma aquarela de autor anônimo.

O DNA de Teresópolis

Ao longo dos anos, gradativamente, a fazenda gozou de certo progresso. March transformou as terras incultas e matas virgens que ali haviam em uma fazenda modelo, com produção em larga escala de diversas espécies de legumes, verduras e cereais, além de mobiliar toda a sede da fazenda para seu conforto. Entre 1829 e 1830, de acordo com relato do viajante inglês Walsh, havia uma imensa área de pastagens para criação de 150 cavalos e mulas, cem cabeças de gado preto, além de carneiros e porcos. 

Uma década mais tarde, de acordo com relatos de outro viajante, Gardner, havia uma grande plantação de hortaliças que supria regularmente o mercado consumidor do Rio de Janeiro com vegetais de origem europeia, localizada onde atualmente corresponde ao bairro Quebra Frascos. O que ali produzido era enviado duas vezes por semana em três lotes de 21 animais para o porto de Piedade. Teresópolis assim, começava a abastecer o Rio com hortaliças e frutas, algo que ocorre até a atualidade. Gardner comentou, ainda, que a disciplina imposta aos escravos na fazenda era bastante rigorosa, além do que em outras que ele havia visitado no Brasil.

Os caminhos lamacentos por onde as mercadorias eram transportadas era a única forma de acessar a propriedade, e eles só podiam ser vencidos pela resistência e força dos cavalos e mulas, que serviam para o transporte das mercadorias que iam da fazenda para o Rio de Janeiro e também para trazer as que eram adquiridas na capital para o abastecimento próprio.

March recebia frequentemente visitantes, como os diplomatas franceses Jules Itier e Ferriére de Voyeur, Alfredo d’Escragnolle, Visconde de TaunayPercy Smythe, 6.º Visconde Strangford e William John Burchell, que produziu no local aquarelas de bico de pena que se encontram atualmente em exposição no Instituto Moreira Salles.

Os convidados tinham o costume de registrar em seus diários as impressões da região, principalmente sobre a Serra dos Órgãos, que despertava a atenção de todos por seu formato peculiar.

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